Três da tarde na cidade cinza. Sentada em frente à biblioteca me dedico à escuta da sinfonia discorde. Freios de ônibus, aceleradores de motos, um zumbido grave constante. Vez ou outra uma voz mais distante atravessa a massa de sons. Gargalhadas agudas de mulher que lembram o tempo em que o televisor permanecia ligado a todo tempo para abafar o silêncio dos ambientes. Esse tempo foi agora. Aqui ao lado.

Enquanto uns ainda tiram a hora do almoço, outros já iniciam o caminho de volta… Com a pressa que é de praxe num corpo pleno do sossego de quem só trabalha até o início da tarde.

Estou à espera de um encontro. E cheguei um pouco cedo, o que dilata minha expectativa. Em São Paulo os encontros marcados acontecem sempre 15 ou 20 ou 30 ou 45 minutos depois do combinado. Nessa matemática paulista, sobra-me bastante tempo agora – que contextualmente até que é muito bom, pois nessa cidade a pressa é sempre muita e o tempo é sempre pouco… Sinto-me sem dívidas para com os relógios. E entretanto meu corpo continua a se tecer acelerado. Lido com a efervescência dessa sensação enquanto olho em volta e observo esse oásis que é esse deckzinho com mesas em frente a biblioteca Mário de Andrade. Que sorte achar esse lugar de pouso para dar treinamento à espera… Sentada de frente para a avenida São Luís assisto um filme de pessoas, concreto e máquinas que vai se desenrolando na corredeira dessa via. É mesmo, a vida nunca pára!

Já passaram quinze minutos, ninguém apareceu ainda. O encontro marcado vai se abismando um pouco. Meu coração se aperta um tantinho… Respiro bem lento no centro desse chakra, e acolho mais esse bocado de momento comigo própria. Faço-me corpo de solidão… Uma solidão tão leve e cheia de companhia do som, do ar e do espaço…

Às vezes acho viver em São Paulo muito difícil. Noutras vezes afino para essa capacidade incrível que a presença tem de transformar o lugar. Emano um espaço sem apertos e continuo me espantando com as muitas possibilidades que estão sempre aguardando serem convidadas para tornarem-se visíveis… Vivíveis…

Agora todo aperto do meu peito já se transformou numa largueza ventilante. Aspiro o aroma da demora… Às 15h30 chega um whatsapp das pessoas que eu aguardava perguntando onde eu estou. Avisam que estão todos dentro da biblioteca desde às 15h a minha espera para o encontro. Levanto em supetão e rabisco essas últimas palavras enquanto corro até a entrada.

paulinha